O encantado é o vivente que pisa nesse chão sem saber por que pisa, e vive nesse mundo sem saber porque nele vive, sem saber o porque ele é assim como é. Por tudo isso é que se dá aos viventes o nome de encantados. Porque vivem nesse mundo fazendo mistério de tudo, encontrando tudo misteriosamente.
Encantados pelo Sol, pela Lua, pelas Estrelas, pelo Mundo e pela Natureza. Então, costumam dizer que esse é um encanto que jamais será desencantado, que não há quem desvenda esse mistério, que isso é da lei do Mestre. Fazem todas essas suposições, conjecturando outras mais, de acordo com seu fraco modo de imaginar e solucionar as coisas a seu jeito de interpretar.
O encantado vive assim a variar desse jeito, a vagar sem conta, sem nada saber de si nem das demais coisas, sem saber divulgar a sua origem, desconhecendo, completamente, o seu ser, em imaginações vagas, à procura de uma realidade para se poder basear no que não existe, a fica nesse sonho de sofredor ambulante, um mau interpretador das coisas, pensando que tudo é como a sua imaginação julga ser. É uma infelicidade muito grande do vivente não se conhecer.
Pois o vivente não sabe de onde veio, não sabe para onde vai, vivendo cheio de sonhos misteriosos, sem poder julgar com certeza que isto ou aquilo é verdadeiro.
Mas, a mania é um plebiscito orgânico do próprio vivente. É raro este ou aquele que não tem a mania de dizer que conhece, que sabe, e vendo na frente de seus olhos que toda a sabedoria desse mundo é falha, que todos nesse mundo são errados, e por todos serem errados, teimosos e persistentes nessas contradições é que dizem estar direitos embora vendo a confusão de si mesmos. Bastar serem encantados para serem desequilibrados, e basta serem desequilibrados para não saberem o que dizem, e proveito nenhum tirarem do saber que dizem ter. O que adianta conversar com quem não sabe o que está dizendo? Não adianta nada. No mundo tudo está errado. O certo não se encontra em lugar nenhum. E, por isso, todos vivem errados. Se no mundo existesse o bem e o direito, há muito todos já viveriam bem, felizes e direitos. Poir não existir o bem e o direito, é que todos vivem errados, sofrendo sempre de mal a pior.
Portanto, o que adianta discutir com quem não sabe que o diz? Com quem não sabe nem o que vê? É o mesmo que conversar com ceguos de olhos abertos, que estão vendo tudo e não compreende nada.
( Amarelão Racional Superior, Livro UNIVERSO EM DESENCANTO)
(https://youtu.be/XQLl7dLscjY)
